sexta-feira, 21 de maio de 2010

Análise de duas versões da fábula “A cigarra e a Formiga”

A cigarra e a formiga
(essa fábula é atribuída a Esopo, foi recontada por La Fontaine, abaixo apresento a versão de Bocage).

Tendo a cigarra em cantigas
Passado todo o verão
Achou-se em penúria extrema
Na tormentosa estação.

Não lhe restando migalha
Que trincasse, a tagarela
Foi valer-se da formiga,
Que morava perto dela.

Rogou-lhe que lhe emprestasse,
Pois tinha riqueza e brilho,
Algum grão com que manter-se
Até voltar o aceso estio.

- "Amiga", diz a cigarra,
- "Prometo, à fé d'animal,
Pagar-vos antes d'agosto
Os juros e o principal."

A formiga nunca empresta,
Nunca dá, por isso junta.
- "No verão em que lidavas?"
À pedinte ela pergunta.

Responde a outra: - "Eu cantava
Noite e dia, a toda a hora."
- "Oh! bravo!", torna a formiga.
- "Cantavas? Pois dance agora!"


A Cigarra e a Formiga - Nova Versão(texto escrito por Lell Trevisan - Publicado no Recanto das Letras em 20/12/2008 - TODOS OS DIREITOS RESERVADOS).

Certa vez, não muito longe, e nem tão perto, havia um grupo de formiguinhas que trabalhavam dia e noite, sem cessar, durante todo o verão. Elas não paravam, mas ninguém sabia explicar de onde vinha tanta força.
Mas na mesma comunidade, havia uma cigarra, e ela não trabalhava, só cantava. Cantava dia e noite, sem parar. E quando o inverno chegou, a cigarra não tinha para onde ir. Desesperada, triste, com frio e fome, se sentou de baixo de uma árvore e ali adormeceu. Um das formiguinhas, ao olhar para fora, viu a cigarra, tremendo. Elas saíram, fizeram uma roda e disseram: Venha para nossa casa, lá é seu lugar, porque enquanto nós trabalhávamos você cantava. E todas as vezes em que nós quisemos desistir, o seu canto e a sua arte nos animava e nos dava força para continuar a batalhar. Por causa disso, não desistimos, tivemos ânimo, trabalhamos alegres. Obrigado cigarra, pela sua arte!
Então, as formigas levaram a cigarra para seu lar. No fim da noite, ouviam-se apenas muitos aplausos.
Enfim, esta é uma história real. Mas durante muito tempo, esta história não era contada desta maneira. Mas foi exatamente assim que aconteceu. Eu sei, eu estava lá.


Análise
A diferença básica entre os dois textos é notória: No primeiro há um preconceito embutido que exalta o trabalho árduo e pesado e desqualifica o trabalho artístico. Essa visão de trabalho veio com a Revolução Industrial que criou indivíduos-máquinas e hoje lutamos para combater isso. É notória também uma apologia ao egoísmo, um ensinamento nada cristão de “o que é meu é meu e não divido com ninguém”. Já no segundo texto o ensinamento fundamental é o princípio da regra áurea: “faça aos outros o que deseja que façam a você mesmo”. Fazer o bem sem olhar a quem, repartir o pão e valorizar o trabalho artístico são peças importantes na educação.

Postado por: Érika Tognolli

2 comentários:

  1. Erikinha! Estou muito feliz por vc ter conseguido trabalhar com a intertextualidade, percebendo sua importância. Parabéns. 1 abço. Stella.

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  2. Olá Erika! Grato pela sua análise dos dois contos. Escrevi esta versão, pois como artista já ouvi muitas frases que desmerecesse nosso esforço artístico. E PARABÉNS pelo blog que exalta o ensinamento e sua importância na condição do crescimento humano. Grande abraço - Lell Trevisan

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