terça-feira, 25 de maio de 2010

Música: Expressão da Alma

Uma algazarra infantil na sala do 4º ano calava o som do alfabeto, repetido à exaustão pela professora. "O ano estava no fim quando vimos que os alunos precisavam de reforço. Métodos tradicionais de alfabetização não funcionavam, as crianças estavam agressivas", diz a educadora Isa Stavracas, da E.E.Professor Joaquim Torres Santiago, na zona leste de São Paulo.
Um rádio virou instrumento pedagógico naquele 4ª ano, como medida de emergência. "Para que recuperassem o interesse propus uma alfabetização por meio das músicas", lembra Isa. Segundo a educadora, usar música como recurso pedagógico eventual é diferente de criar um processo de musicalização que permeie toda a educação infantil. "Os professores não têm consciência da importância da música. Ela pode ser usada para trabalhar várias áreas. Um piano é matemática pura! Na alfabetização é possível usar elementos musicais similares ao som das letras. A música favorece até o convívio social das crianças", garante.
No campo da neurociência, não faltam dados que vinculam o estudo da música ao desempenho intelectual. "A música desenvolve novas habilidades cognitivas e ajuda a lidar melhor com as emoções, a diminuir comportamentos agressivos. É usada para tratar crianças com hiperatividade, distúrbios de atenção e de linguagem", enumera a musicoterapeuta Sandra de Moura Campos Oliveira, da Faculdade Paulista de Artes.
Segundo Piaget há a necessidade de estimular a criatividade através da composição e improvisação. A improvisação busca o exercício da liberdade e da espontaneidade que ao entrar em contato conosco, permite-nos chegar ao pensamento artístico, ao processo de autoconhecimento e ao desenvolvimento das inteligências intra e transpessoal.
Campos (2000) nos diz do pensamento de educadores musicais contemporâneos, Paynter e Aston que vem contribuir com idéias de que a educação musical contribui para o crescimento individual do ser e aumenta o contato com o mundo que o rodeia, tornando-se um veículo de expressão, harmonia e proporcionando-lhe prazer.
Na opinião da maestrina Erika Hindrikson, do Instituto Callis, a educação musical pode aprimorar o gosto musical no País. "Cresce o interesse por 'pseudomúsicas', mas ninguém pode gostar de outra coisa se não conhece outra coisa. O objetivo não é formar músicos, assim como não se espera que a educação física gere atletas. A música é uma linguagem universal, deveria estar ao alcance de todos, e não ser vista como elitista", diz. Ela participa do Camerata Callis, projeto que leva concertos grátis até a rede pública.
Usamos a educação musical para integrar o nosso mundo corporal, racional, emocional e espiritual nos níveis de consciência que formam uma continuidade infinita.
Estudar música, portanto, é o resgate de algo muito agradável; é a expressão da criatividade, da liberdade, dos sentimentos, da intuição e também, uma oportunidade de estimular a imaginação e espontaneidade.
Freire (1978), afirma que sem criatividade e participação, não haverá transformação e, conseqüentemente, aprendizagem.
Baseada nas teorias de assimilação e acomodação de Piaget, a educação musical se dá com o objetivo primeiro do crescimento individual da pessoa por meio das descobertas e conquistas dos sons no instrumento ou na voz resultando, finalmente, cada vez mais uma interação e apropriação do objeto com o indivíduo.
Campos (2000) nos traz um comentário sobre Blacking que define a educação musical como uma síntese de processos cognitivos, os quais estão presentes na cultura e no corpo humano; as formas que toma e os efeitos que tem sobres as pessoas são gerados pelas experiências sociais dos corpos humanos em ambientes culturais.
Melhor que um método para a aprendizagem de um instrumento, é o professor estar alerta para perceber a necessidade do momento de seus alunos. É importante enriquecer-lhes a experiência da aprendizagem com a experimentação, buscando a resolução dos problemas.
Um método tradicionalmente estruturado induz a cristalização de idéias, repetição automatizada e inconsciente de fórmulas prontas. Ao contrário, deve haver flexibilidade de adaptações com o momento, com a necessidade e individualidade de cada aluno.
“A ênfase deverá estar na aprendizagem e não no ensino, na construção do conhecimento e não na instrução. A aprendizagem resulta da relação sujeito-objeto, que, solidários entre si, formam um único todo. As ações do sujeito sobre o objeto e deste sobre aquele são recíprocas. E o importante é a interação entre ambos” (Moraes, 1997,139).
Na educação voltada para a experimentação, o professor deve catalisar tudo o que se passa na aula. Sem adotar a postura antiga de ser o possuidor das respostas corretas, deve inculcar na mente dos alunos o desafio de um tema para o despertar do interesse e crescimento do aluno. Em um trabalho criativo, o mestre deve ouvir mais do que falar, pois deve saber que não há repostas definidas diante de um universo tão vasto. O professor pode perguntar para desafiar e instigar (e nunca responder pelo aluno) e juntos trabalharão sobre o problema proposto. Tanto professor quanto aluno, possuindo o intento de se desnudar perante o outro, de uma forma sincera e plena, poderão experimentar a troca e a aceitação, culminando na afetividade vibrante da verdadeira aprendizagem. Não há medo, portanto, mas, disposição à pesquisa durante a experiência vivida, além do crescimento individual e do relacionamento entre ambos. Erros e dificuldades são vistos apenas como parte desse caminho. Portanto, a primeira tarefa do professor é procurar conhecer cada aluno, tanto na esfera física quanto na espiritual, percebendo também seus aspectos positivos e negativos.

CAMPOS, M. C. A importância da improvisação na Educação Musical. In: Revista Goiana de artes, vol. 12/13, nº 1, jan./dez. 1991/1992.

CAMPOS, M. C. A Educação Musical e o novo paradigma. Rio de janeiro: Enelivros, 2000.

CUNHA, M. A. V. Didática fundamentada na teoria de Piaget. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1973.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 5ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.

PIAGET, J. Epistemologia genética. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

SANTOS, H. Piaget na prática pedagógica. Lisboa: Semente,1977.
http://gesielvargas.blogspot.com/2008/09/msica-e-pedagogia_10.html

Postado por: Erika Tognolli

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